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A inteligência artificial (IA) já não se limita a manchetes futuristas ou a artigos de investigação especulativos — está a tornar-se uma ferramenta indispensável na luta contra o cancro. Em todo o mundo, os oncologistas começam a recorrer a sistemas de IA que aumentam a precisão, aceleram o planeamento dos tratamentos e abrem caminho a cuidados mais personalizados. Um exemplo marcante vem do Dr. Raj Jena, professor clínico de IA em oncologia de radiação, cujo trabalho pioneiro demonstra que a IA já “saiu da fase da moda” e faz parte da prática clínica quotidiana. A sua experiência sublinha não apenas o poder da IA para transformar o tratamento oncológico, mas também o seu enorme potencial para reforçar os sistemas de saúde, especialmente em regiões com recursos limitados.

Da Moda à Cura: Dr. Raj Jena e a Inovação Osairis

O Dr. Jena co-desenvolveu o Osairis, uma ferramenta de IA em colaboração com a Microsoft, para agilizar o planeamento da radioterapia. Antes, os oncologistas gastavam até duas horas a planear os feixes de radiação para evitar danos nos tecidos saudáveis — muitas vezes terminando o trabalho em casa. Agora, o Osairis realiza estes cálculos em apenas alguns minutos, permitindo tratar mais rapidamente sobretudo cancros da próstata e da cabeça e pescoço, melhorando significativamente a eficiência e os resultados clínicos. [Financial Times]

Apesar destes avanços, a IA não resolve por si só todos os desafios. Apenas 36 % dos doentes em Inglaterra iniciam radioterapia dentro do prazo nacional de 62 dias, bem abaixo do objetivo de 85 %. Ferramentas como o Osairis ajudam a reduzir gargalos, mas a escassez de profissionais e a procura crescente continuam a ser problemas centrais.

Para aproximar inovação e prática clínica, o Dr. Jena e colegas estão a desenvolver o Apollo, uma plataforma financiada pela Cancer Research UK. O Apollo permite que investigadores submetam novos modelos de IA para serem avaliados precocemente por clínicos hospitalares — facilitando validação segura e eficiente antes da implementação.

Avanços Mais Amplos da IA: Da Descoberta de Fármacos ao Diagnóstico

O impacto da IA na oncologia vai muito além do planeamento da radioterapia:

• Descoberta de fármacos e tratamento personalizado: Modelos como o AlphaFold da DeepMind aceleram a previsão de estruturas proteicas, permitindo identificar alvos terapêuticos com rapidez. Empresas como a Exscientia e a Evotec já desenvolveram candidatos oncológicos em tempo recorde — alguns chegaram a ensaios de fase 1 em apenas oito meses (em vez de 4–5 anos).
  
  
• Medicina de precisão e biomarcadores: A IA apoia a descoberta de novos biomarcadores que melhoram o rastreio, o diagnóstico e a previsão de prognóstico, ajustando planos de tratamento ao perfil molecular de cada doente.
  
  
• Previsão da resposta à imunoterapia: A ferramenta SCORPIO, baseada em IA, usa análises de sangue de rotina e registos clínicos para prever a resposta a inibidores de checkpoint imunitário, com 72–76 % de precisão — superando testes aprovados pela FDA.
  
  
• Deteção precoce e melhores resultados:
  
  
  • A vida de um doente foi salva graças à análise com IA de TACs, que identificou uma lesão com risco de 64 % de ser cancro — permitindo cirurgia atempada.
    
    
  • O iNav, um sistema criado pela Northwell Health, identifica precocemente cancro do pâncreas em exames de imagem feitos por outras razões, reduzindo em 50 % o tempo entre diagnóstico e tratamento.
    
    
• Diagnóstico de alta precisão: Ferramentas como o Derm — uma aplicação baseada em IA já utilizada em hospitais do NHS — analisam lesões cutâneas com 99,9 % de precisão, ajudando a excluir melanoma e a reduzir listas de espera.
  
  

Porque Isto Importa para os Sistemas de Saúde do Sul Global

• Escassez de especialistas: Ferramentas como o Osairis ou assistentes de diagnóstico podem compensar a falta de profissionais qualificados, acelerando processos e garantindo maior acesso a cuidados.
  
  
• Limitações de recursos: Diagnóstico e tratamento mais rápidos significam menos visitas hospitalares, menor pressão sobre infraestruturas e intervenção mais atempada — crítico em sistemas subfinanciados.
  
  
• Soluções adaptadas: Plataformas como o Apollo, que estimulam colaboração entre clínicos e investigadores, podem gerar soluções adequadas a contextos locais — especialmente valiosas onde os padrões de doença e os dados são únicos.

Conclusão

O trabalho do Dr. Raj Jena com o Osairis mostra como a inteligência artificial deixou de ser apenas uma promessa teórica e já está a gerar impacto mensurável no tratamento do cancro. Ao acelerar o planeamento dos tratamentos, apoiar os clínicos e possibilitar novos modelos de colaboração através de plataformas como o Apollo, a IA está a afirmar-se como uma parceira essencial na oncologia. Para além da radioterapia, a sua influência é visível na descoberta de fármacos, no diagnóstico, na deteção precoce e na previsão de resposta à imunoterapia — áreas em que a rapidez e a precisão podem fazer a diferença entre a vida e a perda.

O futuro dos cuidados oncológicos não será definido apenas pela tecnologia, mas pela forma como integramos a IA nos sistemas de saúde existentes, investimos em ferramentas seguras e validadas, e garantimos que a inovação se traduz em melhores resultados para os doentes. Com a colaboração contínua entre investigadores, clínicos e líderes tecnológicos, a IA tem o potencial de transformar o tratamento do cancro numa jornada de cuidados mais rápida, precisa e personalizada.